Prefácio: Réquiem para a Liberdade



Autor do livro: Thiago Lee

Prefaciador: Alfer Medeiros

Editora: WWLivros



Prefácio:
Conheço pessoas que, apesar de apreciarem diversos gêneros literários, não se interessam por Fantasia. Ao ouvir seus motivos para esse distanciamento, sempre percebi um padrão bem definido, que pode ser resumido em três itens. O primeiro deles é a massiva descrição de territórios, paisagens e indumentárias, segundo elas um massacre de palavras e mais palavras desviando o foco da trama em si. Também é citada com frequência a criação de novas raças e línguas, trabalho extenuante para o autor e algumas vezes dispensável pelo leitor, por não fazer diferença na história. Por fim, está o perfil dos protagonistas: em sua maioria heróis másculos, de visual marcante, desconhecem o medo e geralmente seguem o fenótipo europeu. Para esses leitores, eu aconselharia a leitura de Réquiem para a Liberdade.

Nesta obra de Fantasia, Thiago Lee opta pela objetividade para contar uma história que flerta com a aventura, mas trata principalmente da superação de dificuldades e preconceitos. O autor não pinta um quadro detalhado das paisagens, apresenta apenas o suficiente para entendermos como o ambiente interage com a trama. Sobre culturas e linguagens desse mundo, o próprio Thiago dá uma breve explicação na introdução do livro, a respeito de como nosso “mundo real” ajudou a fazer certas associações e emprestar alguns sotaques específicos.

E o protagonista... Ah, o protagonista! Marko é um ex-escravo vivendo como uma espécie de pária em um mundo que simplesmente renega os direitos dos chamados libertos, e é tratado como um animal exótico por boa parte das pessoas – odiado e caçado, como dita a ignorância humana. Carrega no corpo terríveis cicatrizes de sua vida de privações, marcas hediondas usadas com arma de intimidação por sua forma impressionante e pelo sofrimento que representam. Lança mão de blefes para evitar confrontos desnecessários e parece estar mais à vontade tocando alaúde do que empunhando uma espada ou arco; porém, se a luta se apresentar como única opção, fará o seu melhor na arte do embate, de forma criativa e ágil.

A forma de contar a história é interessante: somos guiados por capítulos da história no presente, intercalados com flashes do passado que vão esclarecendo e justificando diversos pontos da trama. É como se começássemos a caminhar por uma trilha imersa na penumbra, e, a cada interlúdio, uma nova lanterna se acendesse, deixando mais claro o caminho que pisamos, os elementos ao redor e, principalmente, o perfil de nossos companheiros de jornada. Assim, permite-nos tomar fôlego da trama principal através da degustação de acontecimentos relevantes de outrora, de forma fluida e intrigante.

Chega-se ao final com a certeza de que tudo foi amarrado de forma precisa, mesmo que no decorrer da leitura certos elementos da história pareçam sem importância. Li o último capítulo de Réquiem para a Liberdade com a ótima sensação de presenciar uma obra que atingiu muito bem seus objetivos, em uma história fechada que, torço muito para isso, pode gerar novos livros com os personagens aqui apresentados – me afeiçoei a alguns deles, e espero reencontrá-los em breve.

Desejo uma boa leitura e excelentes reflexões sobre os assuntos aqui abordados!

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